terça-feira, 30 de junho de 2009

Recomendação de Leitura

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Oswaldo Porchat/`Os dogmas podem provocar grandes tragédias´

Oswaldo Porchat/`Os dogmas podem provocar grandes tragédias´ Por Alexandre Lyrio

CORREIO DA BAHIA - Como o senhor conseguiu se livrar das amarras da filosofia tradicional, absoluta, dogmática, e passou a refletir mais sobre o cotidiano?

OSWALDO PORCHAT - Eu sempre tive um grande apego à vida cotidiana. Sempre procurei a filosofia que não pairasse nas alturas, mas que valorizasse as coisas comuns e que estivesse ao lado dos homens.

CB - O ceticismo é capaz disso?

OP - A leitura dos céticos gregos me fez ver que as filosofias se enredam em contradições, e que esse é um conflito insanável, sem fim, e sem remédio. Nesse contexto, descobri no ceticismo não apenas a crítica à razão dogmática, mas também a compatibilidade com a vida ordinária do ato cotidiano. O cético grego, ao contrário de tudo que se pensa sobre ceticismo, é tão somente um homem ordinário, comum e que percebe não haver critérios para resolver as disputas das filosofias. O cético entende que nós não temos senão a vida comum pra viver.

CB - Então, as pessoas têm a necessidade de acreditar em algo "maior"?

OP - Vivemos numa fábrica de mitos. Sempre fomos contaminados por uma espécie de doença da razão. O cético não só renuncia a tudo isso como também quer curar o homem do vício na crença nas coisas absolutas e verdades eternas. Somos advogados da vida comum, e ficamos ao lado dela. Não se pode acreditar numa capacidade da razão humana de sair desse mundo e elevar-se a uma realidade considerada verdadeira.

CB - Acreditar no ceticismo não é acreditar numa verdade?

OP - Não há como acreditar no ceticismo já que ele não afirma tese alguma. Ele se apresenta como uma atitude crítica em relação àqueles que pretendem ter a verdade. O cético não diz "não existe a verdade". O cético é muito mais modesto e diz que ainda não descobrimos aquilo que se chama de verdade. Ainda não temos como aceitar um discurso que se pretenda verdadeiro. Nós não afirmamos nada. Apenas descrevemos a nossa incapacidade de encontrar a verdade.

CB - Não havendo verdade absoluta, como se comporta o cético no plano moral ou diante das leis?

OP - O fato de não haver valores absolutos não quer dizer que não haja valores. E também não quer dizer que eles não podem ser superados quando retrógrados. Uma criança formada com um moralismo excessivo pode descobrir na adolescência que aquela norma é um exagero, e que fazer daquilo uma obrigação moral é algo que não se sustenta. Tomemos uma norma criada pela maioria das civilizações: "não matar", por exemplo. O cético se dá conta de como relativa ela é. Nós não precisamos de normas absolutas para não matar, ou para não ser desonesto ou para não ser maldoso ou hipócrita.

CB - As normas não existem para ser seguidas?

OP - Nós, os céticos, também precisamos de normas para agir. Agora, quais normas aceitar e quais não? Não há critérios absolutos para determinar isso. Se uma norma me parece entrar em conflito com outras coisas eu abandono essa norma. Quando se fala que tal norma está sendo seguida, será que o fato de segui-la não é algo prejudicial? É preciso ir em frente com o espírito crítico sem pretender ser o "dono da verdade". Não temos a verdade e talvez não haja verdade nenhuma a ser buscada. Talvez o que haja é uma vida humana a ser construída. Para isso tem que haver inteligência, inventividade e boa vontade.

CB - A mensagem do senhor sempre foi a de "façamos filosofia no Brasil". Não se faz filosofia no país?

OP - São poucos os grupos, como o de ceticismo, que se esforçam para pensar filosoficamente. Ao longo das décadas desenvolveu-se primeiramente no Brasil uma filosofia teoricamente pobre. Introduziu-se o hábito de se estudar a história da filosofia. Eu acho excessiva a ênfase na historiografia no Brasil. Não quero dizer que esses estudos não tenham que ser rigorosos, mas se esqueceu a parte da inventividade da criação filosófica e a formação nas universidades foi dirigida mais para formar historiadores da filosofia do que para fazer os estudantes filosofarem. Ser filósofo pra mim é ter inquietações filosóficas. Sempre estimulei os meus alunos a expor suas idéias, a ousar e a não ter medo de ser criticado.

CB - O senso comum considera o cético um pessimis-ta...

OP - Não acho que o cético seja um pessimista, nem otimista. O cético é um homem comum que não acredita nos delírios da razão para descobrir a verdade. Em vez de querer construir realidades definitivas, ele tenta viver a sua vida, organizando-a da melhor maneira possível. As pessoas têm uma visão caricatural e deformada do ceticismo. Muita gente hoje é cético sem saber.

CB - O que o senhor acredita haver de positivo na natureza humana?

OP - Talvez se possa dizer que haja no ser humano uma certa disposição natural à solidariedade. Um dos maiores filósofos americanos no século XX defendeu que uma certa tendência à solidariedade para com os outros pode ter sido algo adquirido com a evolução da espécie. A solidariedade seria algo favorável à preservação do homo sapiens. O cético não tem nenhuma objeção, a priori, a tal tese evolucionista. Talvez os seres humanos tenham uma disposição genética e até biológica a uma solidariedade.

CB - O senhor passou por algumas etapas até conseguir conciliar filosofia e vida cotidiana. Isso apareceu como uma questão simplesmente teórica ou existencialista particular?

OP - É difícil explicar a origem desse meu interesse pela vida comum. A única coisa que posso dizer é que tive uma formação cristã sólida, abandonada em seguida. A forma de cristianismo da qual eu tive contato valorizava muito os seres humanos. Depois tive uma formação política socialista que ia na mesma direção. Talvez tenha ficado em mim essa marca de igualdade e amor à humanidade. Quando filósofo passei a valorizar a vida comum e não os devaneios do espírito.

CB - A filosofia que interessa ao senhor é aquela que diz respeito à vida das pessoas. De que forma ela pode ajudar no dia-a-dia do homem comum?

OP - Uma das principais funções do que eu chamaria de uma postura filosófica sadia e crítica, que eu acho que é a cética, é conseguir livrar as pessoas de dogmas de qualquer natureza. Dogmas cientificistas, religiosos ou políticos. Mas a solução prática dos problemas humanos não é a filosofia que tem que dar, e sim as organizações criadas pelos próprios homens. A única coisa que a filosofia pode fazer é contribuir para que isso se faça sem dogmas.

CB - A que conseqüências o dogma pode levar se seguido ao extremo?

OP - Quando transformados em fundamentos de um regime ou de um grupo, os dogmas podem ser responsáveis por grandes tragédias, inclusive. A raça superior, a religião superior, a verdade contra os infiéis. Hoje temos o fundamentalismo cristão e os fundamentalismos árabe e judaico. Muitas vezes, como na política americana de Bush, esse fundamentalismo está acoplado a interesses econômicos. Já o fundamentalismo de Bin Laden, por exemplo, é religioso pura e simples.

CB - É positivo duvidar de todo e qualquer discurso?

OP - Por mais sedutor que um discurso lhe pareça deve-se considerar que se trata de algo a ser submetido a diálogos, discussões e debates. Estar com o pé atrás é examinar criticamente todo e qualquer discurso, mesmo que ele esteja envolto numa retórica impecável. Mas não há fé na linguagem. Quem tem uma boa formação filosófica cética e sadia não acredita facilmente em alguma coisa ou num discurso. O que não quer dizer que vai recusá-lo. A consciência de que não há critérios definitivos absolutos me parece algo muito positivo.

CB - O senhor disse que teve uma formação cristã. O senhor acredita em Deus?

OP - Eu diria que não vejo, se nós pensamos criticamente, elementos para afirmar a existência de Deus.

Retirado de: http://www.filosofia.com.br/vi_jornal.php?id=12

Trilha de contradições - Por Lya Luft


"Convencidos de que pensar dói e de que mudar é negativo, tateamos sozinhos no escuro, manada confusa subindo a escada rolante pelo lado errado"


"Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce." Já escrevi sobre essa frase. Sim, repito alguns temas, que são parte do meu repertório, pois todo escritor, todo pintor, tem seus temas recorrentes. No alto dessa escada nos seduzem novidades e nos angustia o excesso de ofertas. Para baixo nos convocam a futilidade, o desalento ou o esquecimento nas drogas. Na dura obrigação de ser "felizes", embora ninguém saiba o que isso significa, nossos enganos nos dirigem com mão firme numa trilha de contradições.



Apregoa-se a liberdade, mas somos escravos de mil deveres. Oferecem-nos múltiplos bens, mas queremos mais. Em toda esquina novas atrações, e continuamos insatisfeitos. Desejamos permanência, e nos empenhamos em destruir. Nós nos consideramos modernos, mas sufocamos debaixo dos preconceitos, pois esta nossa sociedade, que se diz libertária, é um corredor com janelinhas de cela onde aprisionamos corpo e alma. A gente se imagina moderno, mas veste a camisa de força da ignorância e da alienação, na obrigação do "ter de": ter de ser bonito, rico, famoso, animadíssimo, ter de aparecer – que canseira.

Como ficcionista, meu trabalho é inventar histórias; como colunista, é observar a realidade, ver o que fazemos e como somos. A maior parte de nós nasce e morre sem pensar em nenhuma das questões de que falei acima, ou sem jamais ouvir falar nelas. Questionar dá trabalho, é sem graça, e não adianta nada, pensamos. Tudo parece se resumir em nascer, trabalhar, arcar com dívidas financeiras e emocionais, lutar para se enquadrar em modelos absurdos que nos são impostos. Às vezes, pode-se produzir algo de positivo, como uma lavoura, uma família, uma refeição, um negócio honesto, uma cura, um bem para a comunidade, um gesto amigo.

Mas cadê tempo e disposição, se o tumulto bate à nossa porta, os desastres se acumulam – a crise e as crises, pouca trégua e nenhuma misericórdia. Angústias da nossa contraditória cultura: nunca cozinhar foi tão chique, nunca houve tantas delícias, mas comer é proibido, pois engorda ou aumenta o colesterol. Nunca se falou tanto em sexo, mas estamos desinteressados, exaustos demais, com medo de doenças. O jeito seria parar e refletir, reformular algumas coisas, deletar outras – criar novas, também. Mas, nessa corrida, parar para pensar é um luxo, um susto, uma excentricidade, quando devia ser coisa cotidiana como o café e o pão. Para alguns, a maioria talvez, refletir dá melancolia, ficar quieto é como estar doente, é incômodo, é chato: "Parar para pensar? Nem pensar! Se fizer isso eu desmorono". Para que questionar a desordem e os males todos, para que sair da rotina e querer descobrir um sentido para a vida, até mesmo curtir o belo e o bom, que talvez existam? Pois, se for ilusão, a gente perdeu um precioso tempo com essa bobajada, e aí o ônibus passou, o bar fechou, a festa acabou, a mulher fugiu, o marido se matou, o filho... nem falar.

Então vamos ao nosso grande recurso: a bolsinha de medicamentos. A pílula para dormir e a outra para acordar, a pílula contra depressão (que nos tira a libido) e a outra para compensar isso (que nos rouba a naturalidade), e aquela que ninguém sabe para que serve, mas que todo mundo toma. Fingindo não estar nem aí, parecemos modernos e espertos, e queremos o máximo: que para alguns é enganar os outros; para estes, é grana e poder, beleza e prestígio; para aqueles, é delírio e esquecimento.

Para uns poucos, é realizar alguma coisa útil, ser honrado, apreciar a natureza, sentir o calor humano e partilhar afeto. Mas, em geral medicados, padronizados, desesperados, medíocres ou heroicos, amorosos ou perversos, nos achando o máximo ou nos sentindo um lixo, carregamos a mala da culpa e a mochila da ansiedade. Refletindo, veríamos que somos apenas humanos, e que nisso existe alguma grandeza. Mas, convencidos de que pensar dói e de que mudar é negativo, tateamos sozinhos no escuro, manada confusa subindo a escada rolante pelo lado errado.
Lya Luft é escritora

Fonte: Revista Veja - Edição 2119 - 1 de Julho de 2009

Inventores Contemporâneos no Brasil.

Inventaram o pedágio, a bolsa escola, a roda e o fogo no Brasil...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Blog CAAM

O agregamento do deste blog ao blog CAAM ( Centro Acadêmico Alysson Mascaro ) é motivo de grande honra e satisfação. O blog CAAM é reflexo do Centro Acadêmico das Faculdades Integradas Padre Albino - Direto, que sempre lutou com a verdade e continua a sua luta.

Os componentes do Centro Acadêmico são estudantes que em sua maioria adotam a postura de esquerda, e também por consequência disso surge a verdade nas suas lutas. O espirito aguerrido de seus membros é e sempre será exaltado por esse blog, e servindo como mero agregador e parceiro em qualquer de seus movimentos.

O referido blog se encontra no endereço : www.blogcaam.blogspot.com.

O caso de Veja por Luís Nassif

O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja.Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico.

Para entender o que se passou com a revista nesse período, é necessário juntar um conjunto de peças.

O primeiro conjunto são as mudanças estruturais que a mídia vem atravessando em todo mundo.

O segundo, a maneira como esses processos se refletiram na crise política brasileira e nas grandes disputas empresariais, a partir do advento dos banqueiros de negócio que sobem à cena política e econômica na última década..

A terceira, as características específicas da revista Veja, e as mudanças pelas quais passou nos últimos anos.

O estilo neocon

De um lado há fenômenos gerais que modificaram profundamente a imprensa mundial nos últimos anos. A linguagem ofensiva, herança dos “neocons” americanos, foi adotada por parte da imprensa brasileira como se fosse a última moda.

Durante todos os anos 90, Veja havia desenvolvido um estilo jornalístico onde campeavam alusões a defeitos físicos, agressões e manipulação de declarações de fonte. Quando o estilo “neocon” ganhou espaço nos EUA, não foi difícil à revista radicalizar seu próprio estilo.

Um segundo fenômeno desse período foi a identificação de uma profunda antipatia da chamada classe média mídiatica em relação ao governo Lula, fruto dos escândalos do “mensalão”, do deslumbramento inicial dos petistas que ascenderam ao poder, agravado por um forte preconceito de classe. Esse sentimento combinava com a catarse proporcionada pelo estilo “neocon”. Outros colunistas utilizaram com talento – como Arnaldo Jabor -, nenhum com a fúria grosseira com que Veja enveredou pelos novos caminhos jornalísticos.

O jornalismo e os negócios

Outro fenômeno recorrente – esse ainda nos anos 90 -- foi o da terceirização das denúncias e o uso de notas como ferramenta para disputas empresariais e jurídicas.

A marketinização da notícia, a falta de estrutura e de talento para a reportagem tornaram muitos jornalistas meros receptadores de dossiês preparados por lobistas.

Ao longo de toda a década, esse tipo de jogo criou uma promiscuidade perigosa entre jornalistas e lobistas. Havia um círculo férreo, que afetou em muitos as revistas semanais. E um personagem que passou a cumprir, nas redações, o papel sujo antes desempenhado pelos repórteres policiais: os chamados repórteres de dossiês.

Consistia no seguinte:

O lobista procurava o repórter com um dossiê que interessava para seus negócios.

O jornalista levava a matéria à direção, e, com a repercussão da denúncia ganhava status profissional.

Com esse status ele ganhava liberdade para novas denúncias. E aí passava a entrar no mundo de interesses do lobista.

O caso mais exemplar ocorreu na própria Veja, com o lobista APS (Alexandre Paes Santos).

Durante muito tempo abasteceu a revista com escândalos. Tempos depois, a Policia Federal deu uma batida em seu escritório e apreendeu uma agenda com telefones de muitos políticos. Resultou em uma capa escandalosa na própria Veja em 24 de janeiro de 2001 (clique aqui) em que se acusavam desde assessores do Ministro da Saúde José Serra de tentar achacar o presidente da Novartis, até o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Nelson Tanure de atuarem através do lobista.

Na edição seguinte, todos os envolvidos na capa enviaram cartas negando os episódios mencionados. Foram publicadas sem que fossem contestadas.

O que a matéria deixou de relatar é que, na agenda do lobista, aparecia o nome de uma editora da revista - a mesma que publicara as maiores denúncias fornecidas por ele. A informação acabou vazando através do Correio Braziliense, em matéria dos repórteres Ugo Brafa e Ricardo Leopoldo.

A editora foi demitida no dia 9 de novembro, mas só após o escândalo ter se tornado público.

Antes disso, em 27 de junho de 2001(clique aqui) Veja publicou uma capa com a transcrição de grampos envolvendo Nelson Tanure. Um dos “grampeados” era o jornalista Ricardo Boechat. O grampo chegou à revista através de lobistas e custou o emprego de Boechat, apesar de não ter revelado nenhuma irregularidade de sua parte.

Graças ao escândalo, o editor responsável pela matéria ganhou prestígio profissional na editora e foi nomeado diretor da revista Exame. Tempos depois foi afastado, após a Abril ter descoberto que a revista passou a ser utilizada para notas que não seguiam critérios estritamente jornalísticos.

Um dos boxes da matéria falava sobre as relações entre jornalismo e judiciário.

O boxe refletia, com exatidão, as relações que, anos depois, juntariam Dantas e a revista, sob nova direção: notas plantadas servindo como ferramenta para guerras empresariais, policiais e disputas jurídicas.